Cebrap: Seminário internacional discute alternativas para enfrentar a monotonia do sistema alimentar

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Brasil apresenta criação de Aliança Global para atuar no combate à fome e à pobreza

Os desafios para enfrentar o modelo atual de sistema alimentar e seus impactos sobre a saúde pública da população mundial foram destaques de seminário internacional realizado pelo Cebrap Sustentabilidade e parceiros, na quinta, 16/05. O evento  “Enfrentando a monotonia do sistema alimentar: Oportunidades de ações nas iniciativas da Presidência Brasileira do G20, reuniu gestores, acadêmicos, pesquisadores e representantes da sociedade civil para reflexões sobre o atual modelo global de sistemas alimentares.

Marcado por uma monotonia no consumo e na produção, os sistemas alimentares predominantes são caracterizados pela dependência de combustíveis fósseis (como fertilizantes e pesticidas derivados de combustíveis fósseis), uma produção focada em commodities, alimentos industrializados (principalmente ultraprocessados) e pecuária intensiva.

“Esse sistema é responsável por 1/3 das emissões globais, é o principal fator de erosão da biodiversidade e um determinante muito importante na poluição, ou seja os três grandes problemas ambientais globais (clima, biodiversidade e poluição) estão nos sistemas agroalimentares”, afirma professor Ricardo Abramovay, que é titular da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo.

O professor destaca ainda que o atual foco no aumento da disponibilidade calórica e proteica disparou a pandemia da obesidade, inclusive e países de renda baixa e média. “As doenças decorrentes de consumo excessivo de produtos ultraprocessados tem uma dimensão distributiva importante. 62% da população que sofre de obesidade está em países em desenvolvimento, 42% da população global não tem como adquirir uma dieta saudável”, afirma.

Os dados constam no estudo do Fórum Econômico Mundial, lançado em dezembro de 2023, que acende um alerta vermelho contra os alimentos  ultraprocessados.

Prioridade governamental

Em 2022, 33,1 milhões de pessoas enfrentavam a insegurança alimentar e nutricional grave no Brasil.  A luta contra a pobreza e a fome voltou a ser uma das prioridades do atual governo brasileiro.

Para o coordenador-geral de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Saulo Ceolin, que participou do webinário, o Brasil tem muitos instrumentos para atuar neste combate. “Trouxemos o combate à pobreza e à fome para o centro dos debates deste governo novamente. Por isso estamos com essa força-tarefa do G20 e criamos uma Aliança Global, porque a luta contra a fome é uma decisão política”, afirma.

A aliança global está baseada em três bases: institucional, de conhecimento técnico e financeira. No pilar financeiro, a proposta é que países desenvolvidos, fundos doadores tradicionais e inovadores também se comprometam a trabalhar em prol dos países em desenvolvimento na implementação de ações contra a fome e a pobreza.

No pilar institucional, os países se comprometem com essa implementação das políticas consideradas prioritárias. Já no pilar técnico, a intenção é aproveitar os conhecimentos existentes a partir das políticas públicas que foram elaboradas em âmbito internacional, em comitês de segurança alimentar, por exemplo.

O grupo que compõe essa aliança global tem se reunido para encontros técnicos, reuniões e conferências e já aprovou alguns critérios para a criação de uma “cesta de políticas” que devem ser implementadas pelos países.

Segundo Saulo Ceolin, essa aliança deverá ser um hub para que os países possam se ajudar entre si, com conhecimentos e trocas de experiências. “Podemos ajudar e dar suporte, queremos ser um guarda-chuva para esses países e temos avançado bastante nesse sentido”, afirma Saulo. A previsão é que a Aliança Global seja lançada oficialmente na cúpula de chefes de Estado e de Governo do G20, em novembro, no Rio de Janeiro.

Desenvolvimento sustentável

Além da luta contra a fome e a pobreza, também estão entre os principais esforços do governo brasileiro as transições de energia e desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global. É o que indica Thiago Lima, coordenador dessa força-tarefa para Aliança Global. “Todas as prioridades se enquadram na meta de reduzir a desigualdade, princípio que o Brasil está comprometido em desenvolver na presidência do G20”, afirma.

Thiago destaca o aumento do espaço fiscal, que facilite a implementação de políticas públicas nacionais em grande escala, o fortalecimento da produtividade da mão de obra e, principalmente, o aumento do consumo familiar, estimulando o crescimento econômico, estão entre as ações estruturais para promover uma alimentação saudável e acessível.

“Para atingir esses objetivos as principais negociações em andamento abrangem a tributação de bilionários, focando na possível redistribuição e receitas para programas sociais  e de desenvolvimento”, avisa Lima.

O webnário internacional foi promovido pelo Instituto Comida do Amanhã, Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Combate à Fome, Instituto de Defesa do Consumidor, Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares, Instituto Fome Zero e pelo Cebrap Sustentabilidade.

Também participaram do seminário: Abhishek Jain, Alejandro Cavillo Unna, Cláudia Martinez, Fernanda Machiaveli, Janet Maro, Mariana Macario e Vanda Maia. O evento foi moderado por Juliana Tangari. Para assistir o webnário internacional, clique aqui.

Ascom Cátedra com informações da Agência Brasil
Foto: Divulgação/Mapa

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