O Caderno Didático com conteúdo pedagógico em agroecologia e sociobidodiversidade do Cerrado, em elaboração exclusiva para a rede Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), ganhou mais um capítulo. A publicação foi submetida, por meio de rodas de conversa, à avaliação e contribuição de educadores, que participam do programa CapGestão Cerrado, e que já haviam frequentado a série de cursos virtuais temáticos voltado à qualificação de professores de EFAs e de Casas Familiares Rurais.
Produzido pela Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas (Amefa), uma das organizações sede da Cátedra, a construção dos cadernos tem como objetivo potencializar planos de estudos na perspectiva da conservação do Cerrado.
Um aspecto inovador do Caderno Didático é justamente sua abordagem inclusiva e colaborativa. “De maneira bem inédita, pela primeira vez a gente vê um um livro didático, ainda em fase de elaboração, sendo levado até as escolas para que estudantes e educadores opinem sobre se o conteúdo é relevante e condizente com a realidade local. Esse é o grande diferencial: a contribuição enriquecedora de jovens, professores, famílias e instituições parceiras dessas escolas, disse Marccella Berte, pesquisadora da instituição sede da Cátedra de Inclusão Produtiva Rural. Ela ressaltou ainda que a elaboração de sugestões de conteúdo ou de melhoria da linguagem são atividades dentro da perspectiva da pedagogia da alternância, um dos pilares do projeto.
Enriquecendo cadernos didáticos com Cultura e Biodiversidade
A ideia é que até o final do ano a publicação seja apreciada em Escolas Famílias Agrícolas de Minas Gerais, Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás e Bahia. Em agosto, três visitas, de um total de seis, foram realizadas. Durante essas oficinas, emergiu uma riqueza de elementos locais que acrescentam saberes ao Caderno Didático. As contribuições foram notavelmente valiosas, especialmente no que diz respeito à linguagem, à cultura popular e às complexas dinâmicas de conflitos e ameaças ao Cerrado, presentes nessas localidades.
Escola Família Agrícola Veredinha, em Minas Gerais
Professor João Begnami, coordenador pedagógico da AMEFA e organizador do Caderno Didático explicando a metodologia do encontro em Veredinha-MG
Durante a visita foi possível observar a realidade de uma região já na transição para o semiárido. A comunidade enfrenta desafios decorrentes da seca, que exige estratégias de convivência com a escassez hídrica. Além disso, o avanço do plantio de eucalipto na região tem desencadeado impactos expressivos, comprometendo a disponibilidade de nascentes e veredas, que são vitais para essas comunidades.
A presença do Centro de Agricultura Alternativa (CAV), que desempenha um papel significativo local, também se evidencia. A inclusão do contexto regional é perceptível e trouxe contribuições como as expressões linguísticas e nomes populares das diversas espécies que compõem a biodiversidade do Cerrado. Esse enriquecimento cultural proporciona ao Caderno Didático não apenas informações, mas também a essência do lugar, através de elementos como músicas, poemas e elementos concretos que retratam a singularidade de cada local. Por exemplo, “o araticum-do-cerrado é chamado de panã ou jaquinha nesta região”.
Escola Família Agrícola de Angical, no oeste da Bahia
Grupo de Trabalho avaliando e sugerindo melhorias ao Caderno Didático na EFA de Angical-BA. Foto: Hugo Trindade – professor monitor da EFA.
A escola enfrenta desafios em um cenário ameaçado pelo agronegócio. Situada também na região do Matopiba, esta fronteira agrícola em expansão, a escola se depara com um forte avanço da monocultura da soja, milho e algodão. Essa realidade impõe questionamentos e coloca em evidência a importância de uma educação que abarque conhecimento local para potencializar inclusão, com desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Entre os parceiros da escola também se fez presente a Agência 10envolvimento que atua em parceria com o ISPN na formação de “Cerrativistas”
Escola Família Agrícola Efaori, em Goiás
Escola, famílias e parceiros da EFAORI reunidos para sediar a Cátedra em Orizona-GO. Foto: Andressa Oliveira
A Escola também convive com a presença marcante do agronegócio, com foco na pecuária e que gera impactos significativos. Durante a visita, também surgiram contribuições valiosas para o Caderno Didático, vindas principalmente do poeta e cantor Antônio Pereira de Almeida representante da Comissão Pastoral da Terra – CPT com elementos da cultura popular que enriquecem as páginas e refletem a identidade dessas comunidades, ressaltando a importância de preservar tanto a biodiversidade quanto as tradições culturais. O jovem Pedro Gregório Duarte, experimentou uma das atividades propostas pelo caderno e saiu à cavalo com seu avô para observar as diferentes fitofisionomias do Cerrado. Ele nos disse ironicamente que havia encontrado “apenas” 23 espécies de sementes nativas reconhecidas pelo avô e coletadas por eles para demonstrar aos colegas na escola.
Reunião no MEC
As atividades presenciais nas escolas culminaram numa ação de apresentação sobre o projeto junto ao Ministério da Educação, que recebeu as informações com bastante entusiasmo, principalmente em relação à metodologia aplicada ao ouvir estudantes e professores, bem como se atentar aos contextos locais, antes de elaborar conteúdos para livros didáticos.
Próximos passos
A versão final do Caderno Didático será impressa e distribuída aos jovens estudantes de cursos técnicos do ensino médio de municípios rurais e deverá alcançar, de maneira indireta, agricultores familiares ligados às 56 Escolas Famílias Agrícolas situadas no Cerrado. A previsão é que o material seja finalizado no início de 2024.
O projeto deverá alcançar, diretamente, 3.800 jovens do ensino médio e técnico das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) situadas no bioma Cerrado. A ideia é que ele integre o currículo dos Centros Educativos Familiares de Formação de Alternância (Ceffas).
Dentre os objetivos das instituições envolvidas também está contribuir para o aumento de renda das comunidades da agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais, com novas oportunidades de acesso aos mercados consumidores e agregação de valor aos produtos da sociobiodiversidade do Cerrado.
O Programa CapGestão Cerrado é promovido em parceria com o WWF-Brasil, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e a União Nacional das Escolas Famílias Agrícola do Brasil (Unefab), com coordenação metodológica do projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e apoio da União Europeia.
Ascom Cátedra