Oficinas de cadernos didáticos semeiam conhecimento para transformar a educação e preservar o Cerrado

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Em uma iniciativa que valoriza a participação ativa e inclusiva, as oficinas para a produção dos Cadernos Didáticos Agroecologia e Sociobiodiversidade do Cerrado chegaram às salas de aula de escolas em Tocantins, Maranhão e Piauí. Baseado na Pedagogia da Alternância, o trabalho tem como objetivo receber contribuições de alunos, educadores e agricultores locais, permitindo que o material didático reflita a riqueza do bioma do Cerrado e atenda às necessidades das comunidades rurais.

Produzido pela Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas (Amefa), uma das organizações sede da Cátedra, a construção dos cadernos tem como finalidade potencializar planos de estudos na perspectiva da conservação do Cerrado para alunos de Cursos de Educação Profissional Técnica, integrados ao Ensino Médio. Esses estudantes são filhas e filhos de agricultores familiares, assentados, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos e indígenas. Nesta etapa, foram realizadas oficinas de avaliação do material didático nas Efas Porto Nacional, em Tocantins, São João do Arraial, no Piauí e no Centro Familiar de Formação por Alternância Manoel Monteiro, em Lago do Junco, Maranhão, nos dias 5, 17 e 19 de outubro.

EFA Cocais, SãoJoão do Arraial – PI, Fotos: João Begnami, 17/10/2023

A participação efetiva tanto dos estudantes, quanto dos educadores, convidados, parceiros e agricultores superou as expectativas. De acordo com o professor João Begnami, coordenador pedagógico da Amefa, o nível das avaliações e das sugestões também foi elevado.

“Colhemos muitas sugestões de melhorias significativas e criativas. As oficinas foram incorporadas na metodologia de elaboração do Caderno Didático como estratégia de envolvimento, participação e construção de uma autoria coletiva visando contextualizar o conteúdo deste material. Nunca antes na história deste país, uma editora foi ao chão da escola para construir livros didáticos de forma participativa, ouvindo educadores e estudantes, bem como parceiros e dirigentes da escola”, ressaltou.

Os participantes das oficinas trouxeram contribuições de grande relevância para aprimorar o material. Suas sugestões abrangeram diversas áreas, desde conteúdo escrito a imagens. Em relação ao conteúdo, enfatizaram a importância de torná-lo científico e envolvente, utilizando menos texto e mais imagens criativas e diversas, com foco na compreensão de termos técnicos e na conexão com o contexto local.

Quanto à linguagem, destacaram a necessidade de equilibrar o aspecto acadêmico com a acessibilidade, adotando uma abordagem fluente e direta, e diversificando as linguagens com desenhos, fotos, músicas e outros recursos. No que se refere às imagens, foram destacadas a ênfase na visibilidade de Escolas Famílias Agrícolas e do variado cenário do Cerrado, de modo a proporcionar identificação com o bioma e suas diversas realidades. Essas contribuições coletivas enriquecem o Caderno Didático, tornando-o mais autêntico e alinhado com as necessidades das comunidades e dos estudantes.

“Foi gratificante poder participar das oficinas para construção de um material tão enriquecedor, como Caderno Didático, cujo objetivo é personalizá-lo de acordo com o nosso bioma Cerrado, nossas vivências e experiências, onde os estudantes e seus familiares poderão se encontrar ali, gerando aprendizado e, sobretudo, produzindo de maneira consciente”, ressaltou Tatiane Viegas Bettoni, monitora da Escola Família Agrícola de Porto Nacional – TO (EFAPN), integrante da coordenação de Curso Profissionalizante.

EFA Porto Nacional-TO, Fotos: João Begnami, 05/10/2023

A proposta é criar um material didático mais próximo da realidade do Cerrado e que represente as vozes das comunidades rurais. Em agosto, as oficinas já haviam percorrido escolas de outros três estados: Bahia, Minas Gerais e Goiás, completando as etapas previstas de avaliação dos cadernos didáticos que já apontam avanços  e desafios.

“As oficinas trouxeram impactos quanto às novas compreensões sobre o bioma Cerrado. Em vários desses lugares o Cerrado ainda não é tema gerador, é um bioma invisível. O material didático será uma oportunidade de estudo, aprofundamento, conscientização e compromisso para com a sociobiodiversidade deste bioma, apresentando práticas agroecológicas e tecnologias sociais importantes para a convivência ecológica com os ecossistemas do Cerrado.”, destacou o professor João Begnami.

Além da visibilidade para as EFAs e seus territórios, compõem os desafios apontados pelas oficinas a  formulação de atividades, exercícios mais detalhados e significativos em diálogo com o texto visando sua comunicação com possíveis práticas de intervenções nos territórios, para atender ao método da Pedagogia da Alternância, que tem como ponto de partida: o ver, a reflexão contextualizada e a ação concreta, articulando teoria e prática.

Com a consolidação da participação dos envolvidos e a formulação das atividades, as oficinas estão avançando com sucesso. O professor  Hugo Rivas de Oliveira, da Escola Família Agrícola de Porto Nacional destacou que se sentiu partícipe do processo contribuindo com ideias, podendo somar e dar ainda mais relevância ao material.

“Ter um recurso pedagógico específico para as Escolas Famílias Agrícolas é um anseio de todo educador da Pedagogia da Alternância. Ainda mais, quando esse material apresenta reflexões e propõe ações de conservação, recuperação e de mudanças de atitudes em prol do Cerrado brasileiro.”

Para ele, a temática e todas as dimensões que a envolvem carecem ser debatidas em todas as escolas do Brasil, permear outras instâncias da sociedadee fomentar políticas públicas que garantam que as próximas gerações tenham um ambiente ecologicamente equilibrado como preconizaa Constituição Federal.

CEFFA Manoel Monteiro, Lago do Junco – MA, Fotos: João Begnami, 29/10/2023

 

Próximos passos

A versão final do Caderno Didático será impressa e distribuída aos jovens estudantes de cursos técnicos do ensino médio de municípios rurais e deverá alcançar, de maneira indireta, agricultores familiares ligados às 56 Escolas Famílias Agrícolas situadas no Cerrado. A previsão é que o material seja finalizado no início de 2024.

O projeto deverá alcançar, diretamente, 3.800 jovens do ensino médio e técnico das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) situadas no bioma Cerrado.  A ideia é que ele integre o currículo dos Centros Educativos Familiares de Formação de Alternância (Ceffas).

Dentre os objetivos das instituições envolvidas também está contribuir para o aumento de renda das comunidades da agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais, com novas oportunidades de acesso aos mercados consumidores e agregação de valor aos produtos da sociobiodiversidade do Cerrado.

Ascom Cátedra

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