“Juventude rural no Piauí como protagonista da agricultura familiar e inovação no campo”,  diz Rejane Tavares, secretária da SAF-PI

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Fruto de parceria entre a Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), o projeto Juventude Rural Transformadora vai selecionar 100 jovens do Piauí para curso de formação teórica e prática. A ideia é que os estudantes sejam agentes transformadores da realidade socioeconômica e cultural das comunidades rurais do interior do Piauí onde a iniciativa será implementada. 

O edital do projeto, que conta com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e apoio da Secretaria da Educação (Seduc) e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), foi lançado em 6 de setembro. Os jovens selecionados receberão bolsa mensal de R$ 1.000 durante o período do projeto, que será de 18 meses.

À frente da SAF, Rejane Tavares dá mais detalhes do projeto na entrevista a seguir. Ao longo da conversa, ela frisa que o Juventude Rural Transformadora é uma importante ferramenta de incentivo à agricultura familiar, pois ajuda a envolver os jovens nos processos de transformação produtiva de comunidades rurais.  

CIRP – Qual foi a principal motivação para a criação do projeto Juventude Rural Transformadora e quais são as principais inovações que ele carrega em relação a outras iniciativas de apoio à juventude rural no Piauí

RT – A principal motivação para pensarmos e planejar o projeto foi encontrar um caminho de envolver os jovens rurais nos processos de transformação produtiva nas comunidades rurais do interior do Piauí. Ou seja, a nossa ideia era ter elementos que permitissem ao jovem participar da elaboração do projeto, entender todo o processo de negociação, discutir com a sua comunidade como esse projeto vai ser feito e permitir que ele tenha liberdade para introduzir novas formas de fazer, de abordagem para o desenvolvimento rural e o envolvimento também de jovens dentro desse processo. O Juventude Rural Transformadora foi pensado para trazer o jovem para dentro da secretaria, para dentro de uma instituição de ensino como o Instituto Federal do Piauí, fazendo com que ele se sinta parte do processo de execução das políticas públicas ligadas à agricultura familiar e que ele possa ser protagonista, inclusive, na execução dessas políticas públicas.

CIRP – Considerando as necessidades específicas da agricultura familiar e das comunidades rurais, de que maneira o projeto busca contribuir para a inclusão produtiva dos jovens?

RT – Para começar, o jovem vai ter uma tranquilidade financeira de sobrevivência durante o projeto, porque ele vai ter uma bolsa de estudo que vai subsidiar suas despesas dentro da execução do projeto. Com isso, ele não vai precisar desenvolver outras atividades, podendo se dedicar exclusivamente ao curso. Ele vai ter uma formação, vai receber um certificado de participação de um curso pós-médio e vai poder discutir o processo de elaboração de projetos em várias comunidades. Além disso, vai se inserir numa dinâmica de assistência técnica diferenciada, participativa e inclusiva, permitindo que ele dialogue com essas comunidades os aspectos mais importantes no processo de elaboração do projeto, na discussão da proposta produtiva propriamente dita, no envolvimento da juventude e de outras pessoas, como mulheres, nas comunidades tradicionais. Isso já vai fazer com que ele se sinta parte e corresponsável pela elaboração dos projetos em cada uma dessas comunidades, porque ele vai estar ali incluído em todo esse processo de discussão e nessa efervescência de construção de um projeto produtivo. Isso vai dar para ele uma visão, inclusive, do que ele pode fazer na sua própria comunidade quando ele for elaborar o seu projeto. Ele vai vivenciar os problemas, as dificuldades, os acertos, as conquistas de outras comunidades antes de fazer o seu próprio projeto. E isso vai conseguir trazê-lo para dentro desse processo.

CIRP – Quais os principais desafios para garantir a fixação da juventude no campo e o fortalecimento da inclusão produtiva rural no Piauí?

RT – O projeto é um instrumento para fixar a juventude no campo. É um instrumento de agregação da juventude, porque nós vamos ter 100 jovens convivendo durante dois anos. Esses jovens vão estar construindo juntos, vão se encontrar diversas vezes, vão trocar experiências. O projeto, em si, já é, na verdade, um instrumento para fortalecer a fixação do jovem no campo.

CIRP – Quais as expectativas em termos de impacto na vida dos jovens participantes e nas comunidades em que eles estão inseridos?

RT – Uma das principais é que essa juventude que está passando por esse processo seja um agente de transformação nas suas comunidades e nos seus territórios, podendo agregar novos jovens à discussão do papel da juventude no processo de produção de alimentos, no processo de fortalecimento da agricultura familiar.

Além disso, esperamos formar o jovem dentro de uma metodologia que envolve diálogos, que envolve participação, que envolve corresponsabilidade, que o torna agente ativo no processo de transformação. Isso pode gerar uma nova forma de pensar a assistência técnica e extensão rural para a agricultura familiar. Também esperamos que, no futuro, a gente possa ter esses jovens como técnicos da extensão rural. De forma oficial ou dentro de uma estratégia de terceiro setor, com criação de cooperativas de jovens extensionistas. Enfim, algo que lhes permita ser agentes multiplicadores desse processo de uma nova forma de fazer assistência técnica para a agricultura familiar.

CIRP – Como a parceria entre a SAF e o IFP pode fortalecer a implementação de novas tecnologias e inovações no meio rural?

RT – O Instituto Federal é uma instituição de ensino com uma capilaridade enorme. Só aqui no estado há 18 campi. Já a SAF é uma secretaria de estado. Mas também temos outros parceiros envolvidos nesse processo, como a Secretaria de Educação, a Associação das Escolas de Família Agrícola, o próprio Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Estas entidades estão buscando um processo de transformação, uma inovação dentro da forma de trabalhar a agricultura familiar. A universidade, por si só, já é um centro de pesquisa de inovações tecnológicas. Esses estudantes vão estar mais próximos desse centro. Mas é necessário lembrar que nenhum desses jovens têm ainda curso de nível superior. Isso vai estimulá-los a buscar novos cursos, novos conhecimentos. Além disso, a própria parceria com instituições de fora, como o Cebrap, que tem um corpo de professores em várias universidades do Brasil, vai estimular conhecimentos de novas tecnologias, de inovações que possam ser adaptadas ou inseridas dentro do contexto da agricultura familiar.

CIRP – No lançamento do projeto, a senhora afirmou que ele traz uma nova cara para a assistência técnica. O que isso significa em termos de mudanças de paradigma para a inclusão produtiva rural do estado?

RT – Essa proposta vai fomentar o surgimento de um novo perfil de técnico da assistência técnica, que vai estar focado na realidade dos agricultores familiares, na sua própria realidade. Porque muitos desses jovens serão oriundos dessas comunidades rurais, trabalhando processos participativos, dialógicos, que permitam a construção do conhecimento junto com os agricultores familiares. Eles vão estar também inseridos numa dinâmica de discussão da história das políticas públicas para a agricultura familiar no Brasil. Eles vão ter um processo de formação com aspectos culturais, uma nova abordagem de fazer agricultura familiar, que traz os paradigmas da agroecologia, além de trabalhar a questão de gênero com respeito à diversidade, com respeito às mulheres, com respeito à juventude, com respeito aos idosos.

Então há um processo também de sensibilização desses jovens para as causas sociais, para as questões ambientais. Acima de tudo, para o que nós estamos vivendo, um mundo com grandes desafios ambientais. E esses jovens vão estar no meio dessas discussões através da participação desses professores, de especialistas, de pessoas convidadas.

E quando eu falo em especialista, ele pode ser um agricultor lá do estado de Pernambuco, que desenvolveu uma nova forma de trabalhar a agroecologia, que pode vir aqui e falar para esses jovens, um agricultor lá do Rio Grande do Sul, que também tem alguma coisa nova para ensinar.

Nossos especialistas são as pessoas que estão inovando, independentemente de formação acadêmica. Afinal, queremos participar da formação desses jovens como pessoas. Não é só uma formação técnica. Queremos formar pessoas que são sensíveis às causas da agricultura familiar, às causas ambientais e às causas sociais.

 

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