Pesquisador do Cebrap Sustentabilidade participou de evento do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), em Brasília
Nos dias 3 e 4 de dezembro, o pesquisador do Cebrap Sustentabilidade César Favarão participou do seminário Superação da pobreza rural no semiárido brasileiro: a trajetória do Projeto Dom Hélder Câmara (PDHC), em Brasília. O evento foi promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), e marcou o lançamento da terceira fase do projeto, uma das mais importantes iniciativas voltadas ao desenvolvimento rural sustentável e à superação da pobreza no semiárido.
A pobreza é um fenômeno multidimensional, com fortes raízes nas zonas rurais do mundo. Quase dois terços das pessoas em situação de pobreza global vivem em áreas rurais. No Brasil, antes da pandemia, esse contraste era evidente: enquanto 50% da população rural vivia em situação de pobreza, apenas 1,7% da população urbana enfrentava essa condição. “Esse cenário evidencia a urgência de políticas inclusivas que promovam não apenas a sobrevivência, mas a superação das desigualdades estruturais”, afirma César.
Ao lado dos pesquisadores do Cebrap Sustentabilidade Arilson Favareto e Vahid Vahdat, César Favarão é co-autor do livro Superação da pobreza rural no semiárido brasileiro: a trajetória do Projeto Dom Hélder Câmara. Os pesquisadores escreveram o capítulo Desenvolvimento territorial, inclusão produtiva e combate à pobreza em zonas semiáridas – lições, oportunidades e desafios, que foi apresentado na mesa temática Inclusão socioprodutiva e integração de políticas públicas em um contexto de desigualdades.
Visão sistêmica IPR
No capítulo os autores apontam a necessidade de uma visão sistêmica sobre a inclusão produtiva rural, que dialoga com os objetivos de desenvolvimento sustentável e permite olhar para além da questão da produção agrícola, com destaque para a diversificação de renda, de acesso a mercados e de serviços, entre as áreas urbanas e rurais.
“As áreas urbanas dependem também do desempenho rural forte, isso não só na questão da produção de alimento, mas sobretudo também na provisão de serviços ecossistêmicos, o que impacta diretamente na qualidade de vida das áreas urbanas”, avalia.
Também destaca oportunidades para o rural brasileiro – entre elas conexões com o seu entorno e a interiorização dos equipamentos de educação do Brasil – e alternativas para se avançar na área, como ouvir a população na definição de prioridades e associar a IPR a estratégias de desenvolvimento nos territórios.
Acesse o livro PDHC_Superação da pobreza rural no semiárido brasileiro (1) (2)
Projeto Dom Helder Câmara
O semiárido brasileiro, historicamente visto como uma região de desafios, é também um território de abundância, força e tradição. O projeto DHC em sua trajetória de mais de 20 anos atendeu mais de 100 mil famílias com investimento superior a R$ 700 milhões transformando a vida de dezenas de milhares de famílias ao promover o acesso à assistência técnica e extensão rural na perspectiva da convivência com o semiárido, ao fomento para a inclusão socioprodutiva, às tecnologias sociais adaptadas, à agricultura familiar, a processos formativos e inclusivos e às políticas públicas de forma integrada nos territórios.
Historicamente, visto como uma região de desafios, é também um território de abundância, força e tradição. O projeto Dom Hélder Câmara, em sua trajetória de mais de 20 anos, atendeu mais de 100 mil famílias, com investimentos superior a R$ 700 milhões, transformando a vida de dezenas de milhares de famílias ao promover o acesso à assistência técnica e extensão rural na perspectiva da convivência com o semiárido, ao fomento para a inclusão sócio produtiva, às tecnologias sociais adaptadas, à agricultura familiar, à processos formativos inclusivos e às políticas públicas de forma integrada nos territórios.
Apesar dos relevantes resultados e impactos alcançados pela implementação das duas etapas do projeto, a realidade socioeconômica da agricultura familiar no semiárido brasileiro permanece com índices altos de pobreza e demandas extremamente desafiadoras e prioritárias para a ação estatal. O IDH da zona semiárida do Nordeste é considerado baixo em 82% dos municípios e o coeficiente de Gini é superior a 0,6 em mais de 32% deles.
A proporção de população rural em extrema pobreza no semiárido da região nordeste também é alta. Enquanto no Brasil 25,5% da população rural é extremamente pobre, no semiárido nordestino essa proporção ultrapassa os 48%.
Nova fase
A nova fase do PDHC terá duração de seis anos, com um orçamento direto de R$ 221,4 milhões e cofinanciamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). A iniciativa pretende beneficiar 90 mil famílias de agricultoras e agricultores familiares em 30 territórios rurais do Semiárido do Nordeste e de Minas Gerais. Entre as ações previstas estão:
- Atendimento a 31 mil famílias com Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e Fomento Rural, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS);
- Priorização de agricultores familiares em situação de pobreza (60%), mulheres (50%), jovens (30%), povos e comunidades tradicionais e indígenas (7%) e assentadas e assentados da reforma agrária e do crédito fundiário.
- Implantação de 950 sistemas de reutilização de água;
- Implementação de 2.500 tecnologias sociais voltadas à produção de alimentos;
- Realização de 135 mutirões de documentação básica para trabalhadoras rurais;
- Apoio a 70 organizações coletivas de agricultores familiares.
Assista ao primeiro dia do seminário
Assista ao segundo dia do seminário
Ascom Cátedra com informações do MDA