Fernando Cabral, coordenador do Bahia Produtiva, fala sobre as transformações alcançadas com o sucesso do projeto

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O Bahia Produtiva vem transformando a vida de milhares de famílias rurais baianas, com o apoio à promoção da sustentabilidade e da inclusão produtiva. Já são mais de 139 mil beneficiários diretos, atendidos em 342 municípios no estado. Nesta entrevista, realizada em fevereiro de 2023, o coordenador-geral do projeto, Fernando Cabral, fala sobre os desafios, as transformações alcançadas e o processo de crescimento do projeto. O Bahia Produtiva é executado pelo governo do estado da Bahia em parceria com a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), a partir de Acordo de Empréstimo firmado entre o Estado e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Banco Mundial). Nos últimos anos foi reconhecido como exemplo de projeto de inclusão produtiva de famílias rurais mais pobres na América Latina. Boa leitura!

CIPR: O Bahia Produtiva investiu U$$ 260 milhões de dólares no fortalecimento da agricultura familiar da Bahia, beneficiando diretamente 139.637 mil agricultoras e agricultores em todo o estado, e foi reconhecido pelo Banco Mundial como exemplo de projeto de inclusão produtiva na América Latina. A que se atribui o sucesso do programa? 

FC: O sucesso do Projeto Bahia Produtiva se deu devido a vários fatores, entre eles um time de colaboradores com competências e conhecimento nas diversas áreas de abordagem do projeto e planejamento das estratégias e ações focadas em resultados, com o foco para se atender aos objetivos do projeto. Também é necessário destacar a disponibilidade e o interesse das coordenações em testar novas ideias e soluções para atender aos beneficiários e a conexão e parceria com empresas fornecedoras estratégicas de soluções, nas quais nós do projeto não tínhamos alcance ou conhecimento suficiente para abraçar pela própria equipe. Ou seja, foi todo um contexto favorável, dentro do Estado da Bahia, para a operacionalização.

CIPR: Você poderia falar um pouco sobre o desenho e a execução do projeto? Na sua visão o que esse programa traz de novo nas formas de participação e gestão, e que pode servir de referência para outros projetos de inclusão produtiva nas áreas rurais brasileiras? 

FC: O lançamento de editais contemplando cadeias produtivas e suas especificidades foi uma iniciativa adequada. Outra, foi o processo de licitação para compras através de um sistema SOL (Solução Online de Licitação), o que tornou o processo de licitação mais ágil e seguro. Talvez estas sejam as maiores referências, assim como a implantação de uma Coordenação de Inteligência de Mercado com estratégias bem definidas para melhorar a gestão das organizações produtivas e proporcionar o acesso a mercados.

CIPR: A inclusão econômica e social de mulheres, jovens, povos indígenas, comunidades tradicionais e empreendedores da economia solidária estava entre os objetivos do programa. É possível indicar quais principais transformações e avanços para essas populações, ocorreram após implementação do Bahia Produtiva? 

FC: Foram muitas as transformações alcançadas. A inserção de atividades econômicas e a geração de renda para essas comunidades, a inserção da mulher nas atividades econômicas e na gestão das organizações produtivas. Na realidade foi todo um processo de crescimento dessas comunidades para uma nova perspectiva dentro do meio rural. Isso sem falar da geração de renda, do resgate da cultura de povos tradicionais, entre outros.

CIPR: Historicamente há uma dificuldade de fazer com que instrumentos como crédito e assistência técnica cheguem aos mais pobres. Como o Bahia Produtiva resolveu esse desafio?  

FC: Talvez o crédito tenha sido o maior desafio do projeto, pois não faz parte do escopo da maioria das instituições de crédito a cessão de recursos para a agricultura familiar ou para as organizações da agricultura familiar. Mas conseguimos algumas parcerias na criação destas linhas de créditos, para as organizações da agricultura familiar. As parcerias com o Desenbahia, Cresol/Ascoob, Banco do Nordeste (BNB) e Banco do Brasil tiveram como serviço/produto oferecido capital de giro e/ou linhas de crédito rural para os beneficiários do projeto. Os valores variavam de acordo com a instituição, em função das especificidades do crédito e do tomador específico. A forma como essas parcerias foram conseguidas se deu através da diretoria da SDR-CAR que reuniu as instituições, negociando as linhas de crédito e capital de giro para as organizações produtivas. Cada instituição definiu sua linha de crédito a ser oferecida e apresentou este produto/serviço às organizações produtivas que decidiram qual seria a melhor opção para a obtenção do recurso junto à instituição financeira.

Em relação à assistência técnica, desenvolvemos estratégias com empresas ou ONGs prestadoras de serviços de assistência técnica, para que pudéssemos pulverizar uma assistência qualificada de forma mais ampla. Algumas prestadoras de serviços de ATER foram contratadas mediante a sua capacidade de atender às demandas do projeto. Podemos mencionar como parceiros o Instituto Biosistêmico (IBS), o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPA), Cedase entre outras. Cada uma foi contratada para atender às demandas do projeto no atendimento técnico aos agricultores familiares e organizações produtivas.

CIPR: Outro desafio diz respeito ao acesso a mercados. Para além das compras públicas, como o Bahia Produtiva envolveu o setor privado na criação de oportunidades para a agricultura familiar?  

FC: O projeto contou com uma Coordenação de Inteligência de Mercado que juntamente com as outras áreas e coordenações fez todo um esforço para trabalhar o mercado privado para as organizações produtivas da agricultura familiar. Estratégias de desenvolvimento e melhoria de produtos, precificação, promoção e distribuição de produtos, associadas a estratégias de vendas e acesso a mercados foram trabalhadas com as organizações produtivas e com empresas do setor privado, atuantes no mercado. Também toda essa conexão com o mercado permitiu elevar produtos e as organizações produtivas para o entendimento de como o mercado funciona. Estas parcerias foram conseguidas através da Coordenação de Inteligência de Mercado, que levantou oportunidades no mercado junto aos canais de distribuição atacadistas, varejistas e outros. Contatos realizados permitiram aproximar os compradores às organizações produtivas com perfil de comercialização imediata de seus produtos. O que tornou atrativo são os produtos, por quem são produzidos e o fato de serem produtos da Bahia e da agricultura familiar.

Dentro do projeto temos várias cadeias produtivas contempladas, cada organização com seu produto ou portfólio de produtos que podem atender as demandas do mercado com suas especificidades. Os atores privados, foco dessa intervenção, são os canais de distribuição, atacadistas, distribuidores e os próprios varejos dos segmentos de supermercados, delicatessens, lojas especializadas de produtos naturais, entre outras. Outro ator importante são os chefs de cozinha e nutricionistas. Cada um desses canais tem particularidades em relação às demandas por produtos e neste sentido procuramos apresentar as organizações produtivas com seus produtos, segmentando o tipo de canal de distribuição com a mesma demanda para o produto daquela organização.

CIPR: Após receber o Prêmio de Melhores Práticas em Captação Internacional na categoria Governos Estaduais, o projeto foi renovado para o período 2023-2027. Nesta segunda fase se chamará Bahia Mais Produtiva. Quais são as mudanças e quais os principais desafios para esta nova fase do programa?  

FC: Os desafios continuam os mesmos, o de melhorar a performance das organizações produtivas para que elas gerem renda e operem no mercado de forma profissional, trazendo aos consumidores produtos saudáveis, limpos e seguros. Mas de novo temos um novo componente, que cuidará de temas relacionados à sustentabilidade e resiliência climática. Trazer esse tema para dentro da agricultura familiar trará a possibilidade de engajá-las dentro do que se discute muito hoje – as questões de consumo consciente, questões do uso de recursos na produção de forma consciente, a proteção das fontes naturais e biomas. Entre outros temas de impacto, a responsabilidade social, a produção justa de alimentos e a preservação da natureza. Deveremos trazer mais soluções de inovação na melhoria da gestão das organizações atendidas, como também nos serviços de assistência técnica. Numa primeira instância manteremos a parceria com o Sebrae Bahia e buscaremos outras instituições e empresas para serem parceiras do novo projeto.

CIPR: Quais as perspectivas do Programa diante da mudança no governo federal. Na sua visão, há algo nessa relação entre estado da Bahia e governo federal que deva ser feito para que se possa melhorar as capacidades e ampliar o potencial do programa? 

FC: O fato de termos um governo federal conectado com as questões sociais, ambientais e com a agricultura familiar, nos abrirá portas para discutirmos de forma mais ampla a nossa participação na condução deste acordo de empréstimo do novo projeto. Acreditamos que novas possibilidades poderão trazer ao novo projeto maior amplitude para que consigamos atender aos nossos propósitos e objetivos. Estamos em fase de detalhamento das estratégias do projeto para o novo acordo de empréstimo e quando o Banco Mundial aprovar as novas diretrizes do novo projeto, começaremos a operacionalizar.

ASCOM Cátedra.

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